Matheus Brasilino
Sobre o Corporativismo
Atualizado: 26 de fev.
Voltemos a falar de economia.
É esperançoso notar que ainda se debate em nosso meio sobre modelos econômicos pautados na doutrina social da igreja, como alternativa as narrativas ideológicas, tanto capitalistas, quanto socialistas. Nos tempos atuais, se torna cada vez mais necessário divulgar que a narrativa mainstream acadêmica está longe de ser a única via de desenvolvimento técnico/científico, e em fato, na maioria das vezes, não é nem tão precisa quanto pretende ser. Isso principalmente na área de humanas.
A doutrina social da igreja, publicada na encíclica papal “Rerum Novarum”, em 1891 pelo Papa Leão 13, serve a nós católicos como referência primordial para o desenvolvimento e análise de qualquer teoria econômica, aplicando o controle dos recursos a uma ordem transcendente maior que visa alcançar o bem estar, a justiça e a prosperidade.
Esses bens, no entanto, não são vistos como um fim em si mesmo, mas como instrumentos para maximizar a salvação das almas. Diferentemente das doutrinas materialistas que visam sempre tentar construir um “paraíso” na terra, as derivadas dos nossos pensadores tendem a um realismo maior, de admitir que a perfeição nunca será alcançada neste mundo, e que por conta disso, as leis econômicas não devem ser tratadas como dogmas, ou verdades imutáveis, que regem a sociedade como “deuses sobre o sol”.
O sul coreano Haa Joo Chang, apesar de não ser um dos nossos, acerta em cheio quando critica a academia por se deixar cegar sobre perspectivas ideológicas. O economista liberal só enxerga o mundo sobre as leis do livre mercado, o economista comuna só enxerga o mundo segundo as teorias de Marx e perdem assim, a capacidade de serem pragmáticos, sendo incapazes de resolver problemas simples, ou em analogia, de enxergar o que está explícito mediante a sua face.
E são esses homens, que tem olhos, mas não veem, que tem ouvidos, mas não ouvem, que governam a sociedade moderna, sendo mais um dos muitos instrumentos da estrutura para arruinar as nossas vidas.
O economista católico não pode ser assim.
A doutrina social nos fornece bases morais, para escaparmos da cegueira, mas a partir dela, precisamos ser pragmáticos. Observar a situação de cada pátria, cada ambiente e sobre a guia de Cristo, buscar as soluções mais justas e eficientes.
Se posso contribuir com o pouco que sei, acredito que a teoria econômica católica que mais se aplica em nosso contexto, sendo capaz de enfrentar os problemas de nossa realidade, seria em fato, o corporativismo.
Baseada na doutrina social, as técnicas e tendências corporativistas são práticas, simples, e completamente alinhadas com a natureza comunitária do homem. Foi-se utilizada por diversas vezes na história por forças contrarrevolucionárias e bem sucedida em não só corrigir e estabilizar a cadeia produtiva, como também expandi-la, sem degradar o restante da sociedade.
Mas antes de elaborar sobre o que seria o corporativismo, é necessário apontar uma observação.
No meu texto “Sobre a Redenção do Brasil” (https://www.redemptus.org/post/sobre-a-redenção-do-brasil) argumentei que a reação de nossa pátria passará por quatro etapas: a restauração da fé, da cultura, da política e da economia. Nessas quatro etapas, o mais importante a se entender, é a ordem. Não se resolve a economia sem antes resolver os outros três, e pular etapas, é o maior dos erros, que nos levam a derrota pelos nossos inimigos.
Por conta disso, tudo que for escrito sobre o corporativismo parecerá distante para alguns, e não há problema, e nem mesmo deixa de ser realizável por conta disso.
Alguém que ainda está na “etapa 1”, enxergará conhecimento da “etapa 4” como algo difícil de se fazer mesmo, mas justamente por isso é necessário compreender, para que não nos surpreendamos nas rotas onde o criador nos conduzir.
O santo católico de nossos tempos primeiro lutará para viver a verdadeira fé, tentando encontrar o silêncio em um mundo barulhento e assim conseguirá ouvir a voz de Deus. Depois disso, encontrará sua vocação e suas obras causarão impacto cultural, trazendo-lhe consequências positivas e negativas. Deverá lutar para não desistir nas negativas e nem se envaidecer nas positivas. Dali, com o tempo, passará a exercer autoridade no que faz, sem precisar de cargo algum, se tornando uma referência entre os seus e sua mera presença, move a política, mesmo que muitas vezes, sem querer. E quando isso acontecer, terá poder para intervir na economia, onde nesse ponto, o corporativismo cai como uma luva.
Tentou causar impacto cultural com pouca fé? Perdeu. Tentou entrar na política via cargo e voto? Perdeu. Quis intervir na economia sem ter feito toda a trajetória mencionada? Perdeu feio. E uma derrota nesse tipo de luta tem por consequência a degradação da alma e te faz mais um, dos milhares de agentes da revolução.
O que seria então o corporativismo?
Para entender isso, precisamos a princípio definir o que é uma corporação.
Hoje entende-se corporação como uma empresa grande, mas esse termo está completamente errado, mataram a nossa semântica, o termo em si agrega uma entidade muito maior e de grande complexidade/profundidade. A corporação real, seria, em fato, uma continuação ou adaptação das guildas medievais, que funcionavam como associações de classes, sendo entes intermediários entre os trabalhadores, consumidores e líderes de cada comunidade.
Atualmente, se o cidadão quer empregar-se, ele busca um “R.H.”, as condições de trabalho são definidas entre o empregador e o governo, o preço é definido pelas condições de mercado e em caso de reclamações, ele necessita consultar um sindicato. Todos esses órgãos o prejudicam, pisoteando-o para extrair de si tudo que puderem.
O “R.H.”, vai condicioná-lo a um comportamento de homem massa servil, que vive para trabalhar e não tem razão maior em sua existência. Tornará dele um zumbi, ameaçando-o constantemente com o desemprego, se ele não se adaptar a nossa “sociedade globalizada”.
A empresa vai aplicar as condições de trabalho que convém somente a ela, e o governo vai tentar conter quando julgar necessário interromper a influência do mercado em prol de seus interesses políticos, condicionando a vida do cidadão a seus caprichos corrompidos e fazendo-o refém de seu jogo doentio.
As condições de mercado são frias e robóticas. A “mão invisível” de Adam Smith nunca funcionou, porque nossa sociedade é marcada por usura, e a movimentação financeira está matando a humanidade. Na história, julga-se que um império teve progresso real quando os homens passam a trabalhar menos e suas famílias se tornam numerosas. No entanto, nossa sociedade pensa o contrário: quanto mais “progredimos”, mais trabalhamos e menos recursos temos para sustentar nossas famílias. Se alguém demonstra publicamente desejar formar uma família numerosa, as pessoas hoje quase como que se sentem ofendidas. O ser humano cada vez mais despreza a vida, em nome desse “progresso” que nos mata mais a cada dia.
E o sindicato, o que dizer desses parasitas? Fingem lutar pelos interesses de classe para ganhar adeptos a sua doutrina socialista, forçando o pobre católico oprimido muitas vezes a escolher entre sofrer a injustiça calado, ou tentar corrigir a injustiça alimentando as forças revolucionárias.
Na Idade Média, por outro lado, não se haviam esses problemas. A guilda abrangia todos esses órgãos.
De exemplo, o camponês medieval que não tinha terras e de alguma forma estava jogado na cidade em busca de trabalho, procuraria a guilda respectiva da área de atuação desejada. Artesãos, construtores, mercadores estavam ali com sua própria organização para encaminhá-lo em alguma das respectivas empresas. Em países mais avançados, se localizavam até mesmo guildas de escritores, artistas e músicos.
As condições de trabalho já estavam pré-estabelecidas pela mesma entidade, e eram justas, porque longe do interesse políticos dos reis e da ganância particular dos mercadores, estabelecia termos que visavam o bem comum, equilibrando os salários em conformidade com a rentabilização do trabalho. Algumas ainda forneciam até formação.
As condições de mercado eram ajustadas em reuniões da guilda com os mercadores e nobres, e balanceavam o preço dos produtos para que não sacrificasse o poder de compra do consumidor, mas que também não retirasse o lucro do produtor.
Quando uma injustiça acontecia, a guilda também ocupava o lugar do que hoje conhecemos como “sindicato”, mas ao invés de grevistas e revolucionários, eram burocratas que estudavam a cadeia produtiva e apresentavam as injustiças aos nobres, que ao detectá-las, agiam com prontidão, usando de sua vasta autoridade, para suprimir os mercadores rebeldes.
Nota-se que a relação entre as classes era harmônica e mesmo que não fosse perfeita, era muito mais justa e estável do que temos hoje.
E como se formam guildas? Certamente pela virtude.
Sabemos por Aristóteles que a verdade não é relativa, e nossas ações podem ser boas ou más. Se servem a verdade e ao bem comum são boas, do contrário, degradam. Uma ação boa, quando repetida várias vezes, vira um hábito. Um hábito bom é chamado virtude, e um hábito ruim é chamado vício. A coragem, por exemplo é uma virtude, enquanto a covardia e a ousadia são vícios, pois são distorções da coragem por falta e excesso.
Sabemos por Platão sobre a natureza social do homem. Então o ser humano tende a formar comunidades e com cada um tendo um dom, pode servir e produzir alguma coisa que ajude na sobrevivência ou bem estar dos integrantes. Um dentre eles certamente se destacará em virtude, e quando o faz, exerce autoridade sobre os demais, podendo assim corrigir as injustiças e defender a cidade dos inimigos externos. Este se tornará rei.
Passa-se então o tempo e a cidade prospera.
Ainda em Aristóteles, sabemos que existem três tipos de amizade, a por interesse, a por prazer e a por virtude, sendo a virtuosa, a amizade por excelência, enquanto as outras são meros reflexos distorcidos da primeira, ainda que muitas vezes, indispensáveis em nossas vidas. Os mercadores, certamente, são os que mais possuem amizades por interesses, tanto por seus clientes, quando por outros mercadores, em processo de transação econômica.
No entanto, dessas amizades por interesses, tem-se mais chance de se converter em amizade por virtude, aqueles que fazem as mesmas coisas, produzem e vendem os mesmos produtos. Ironicamente, o concorrente, ou o rival, é o mais semelhante a nós, por ter passado por obstáculos semelhantes e ter-se os mesmos objetivos ou sonhos.
A guilda surge quando a ganância é dispersada e o desejo de vencer a todo custo é suprimido por uma união fraterna entre estes mesmos mercadores concorrentes, que se unem pelo bem da sociedade, ao invés de apenas lutarem uns contra os outros, como vemos na sociedade capitalista. Quando vários mercadores se unem na mesma guilda, torna-se necessário eleger um líder e eu, mesmo desprezando a democracia, admito que neste caso, o regime republicano se torna o ideal, com os mercadores votando naquele que consideram o mais digno entre eles e apto a lidar com as questões maiores. (a doutrina distributista, por outro lado, confia mais na “cooperativa”)
Certamente que esse mandato era temporário também, para que não se aja abuso do poder.
E se os mercadores conseguiram dar o primeiro passo, os outros segmentos sociais os imitaram de modo exímio. O mesmo se acontecia com todas as outras profissões urbanas, cada uma tinha sua própria associação. Passa-se a era moderna, a guilda se moderniza, tornando-se uma corporação que cumpre as mesmas funções, mas adaptando-se aos novos tempos.
A sociedade é em fato como um corpo e o modelo econômico corporativista alinha e ordena naturalmente cada membro em seu devido lugar. No Brasil, esse modelo funcionaria muito bem, pois a união fraterna dos produtores seria o pontapé inicial para desenvolvermos uma indústria nacional independente e começarmos a lutar por autarquia, ou seja, combater o domínio estrangeiro infiltrado em todas as áreas relevantes e estratégicas para o crescimento da pátria.
Também formaria anticorpos para as ideologias modernas. Sabemos que o método favorito de infiltração maçônica é entrando pelo livre mercado, pelas suas indústrias “alienígenas” penetrando em cada nação e fazendo células doutrinais nos becos obscuros das transições financeiras. Sabemos também que o método favorito da infiltração socialista é entrando pelos acordos de educação e pesquisa, rastejando pelas nossas escolas ou cientistas de intercâmbio, e suas células doutrinais ficam diante de nossos olhos, com aparência de serviço público.
Agora imaginem essas células de infiltração encontrando diante de si, uma corporação de industriais e professores aptos a lhes fazer resistência. Em pouco tempo ficariam marginalizados e pela frustração, nos mostrariam sua verdadeira face satânica. Foi o que aconteceu no Japão, pois a revolução só entrou lá depois de lhes enfiar duas bombas atômicas, em genocídio sistemático de civis. Tiveram de usar a força, porque por infiltração não conseguiram.
No entanto, o corporativismo fascista difere do católico em alguns pontos centrais.
A corporação católica surgiu naturalmente, com os mercadores se alinhando por conta própria em associações, enquanto a corporação fascista foi montada artificialmente pelo ditador. Aqui no Brasil, por exemplo, Vargas tinha seus sindicatos burocráticos, no Japão houve a Zaibatsu, onde o imperador realocou a nobreza, para comandarem as indústrias, que era a novidade de sua época.
A curto prazo, a corporação fascista é tão eficiente quanto a católica, no entanto, em longo prazo tende a se corromper, pois o ditador está distante das massas, sendo incapaz de reconhecer seus anseios e problemas, então não é apto para apontar a pessoa certa que governará algo tão pragmático quando uma “proto-guilda”. A corporação católica é algo que vem de baixo para cima, então pela virtude dos mercadores, eles se auto organizam entre si, não dependendo tanto assim do rei. Por esse motivo, tendem a conseguir atender as demandas locais com mais facilidade, porque não é algo distante de si. Se é um problema de sua área, então ele vê aquilo acontecer e entende as causas.
Mas se o corporativismo é um modelo tão bom, e veio do passado, por que caiu?
Podemos explicar isso, com o advento do absolutismo.
Sempre, na história da cristandade, houve o conflito entre os poderes temporais e atemporais.
Na sociedade ideal, o Papa tem, por excelência, mais autoridade que um rei. Quando um rei era excomungado na Idade Média, ele perdia seu trono, pois toda a legitimidade de seu governo era dispersada. Logo, desde os tempos do Império Romano, os reis maus sempre tentaram se colocar acima dos pontífices, para que possam pecar sem sofrer as consequências e assim, se sobrepor como absolutos.
No absolutismo da renascença, eles de certa forma, conseguiram fazer isso. Tal ato, foi o que fragilizou a cristandade, para nos levar a crise que enfrentamos até hoje. Reis corrompidos avançam contra a igreja, para que depois sejam derrotados por mercadores corrompidos e democráticos, que depois serão mortos por comunistas, e estes ainda serão derrotados pela nova revolução gnóstica, que ainda há de vir.
Na economia, isso também se reflete na corrupção das guildas.
O órgão que antes era autônomo, passou a ser controlado e dirigido diretamente pelos reis. Para facilitar o seu domínio, eles criavam uma guilda fantoche, fazia com que as mesmas “devorassem” as outras e ficasse gigantesca. Com poucas guildas, era fácil de controlar a economia, pois o líder havia seguido a receita maquiavélica de “minimizar as chaves de poder”, e com isso, os fluxos da cadeia produtiva se moviam ao seu bel prazer.
A consequência disso, certamente, foram as crises.
O rei não é economista, e na maioria das vezes, não sabe o que faz. Conduzindo as classes profissionais a seguir seus interesses meramente políticos, literalmente mata todo o processo de rentabilização nacional e colhe por consequência, cada vez mais prejuízos. O povo, cego como sempre, aplaudia, porque pensava “esse rei bota a mão na massa”, sem sequer entender o que estava acontecendo.
Então pensem que as crises econômicas que levaram a queda da monarquia, tem esse fator comum de influência, pincipalmente quando falamos de revolução francesa. Depois que os revolucionários assumiram, Marat ainda tentou reconstruir as corporações, mas já era tarde demais, e os maçons o mataram, impedindo o processo.
Considerem também que a crítica de Adam Smith foi muito pesada, porque tinha seu fundo verdadeiro, embora não fosse a verdade completa. Ele criticava o controle do estado corrompido sobre a economia, afirmando que os reis só atrapalhavam os mercadores, o que é fato. No entanto, a solução dele era simplesmente deixar os mercadores agirem como bem entendem, para que a “mão invisível do mercado” resolva a tudo. E nesse processo, afirmava que todas as corporações deveriam ser destruídas, para que se formasse um ambiente de livre concorrência, onde cada mercador, agiria apenas por si mesmo e passasse por cima de tudo e todos, para prevalecer.
E ele é o pai da economia moderna.
Junta-se o credo dos mercadores gananciosos, com os judeus nos bancos emprestando dinheiro com usura, e você tem o nosso “belo” capitalismo.
Hoje, cada empresa, ao invés de servir as comunidades, só pensa em lucrar mais e mais, afinal, ele tem os acionistas judaicos para pagar, além do empréstimo nos bancos, também judaicos. Por isso esse mercador, muitas vezes, se junta a maçonaria, que é como se fosse uma “guilda global das trevas”. Para matar seu concorrente, para escravizar seu funcionário, para corromper o político e suas regulações, para se livrar do sindicato e do ambientalista parasita, tudo em nome do dinheiro, tudo para realização de seus sonhos fúteis. Enquanto as corporações católicas somem, suas funções são divididas e substituídas por um “R.H.”, um “sindicato”, uma “secretaria estadual”.
Mas um dia isso mudará. Creio, talvez de modo otimista demais, que ainda há tempo de reação. O corporativismo é então a doutrina econômica que julgo ser a que melhor se aplica em nossas condições, pois ela visa restaurar a ordem natural e está completamente atrelada a defesa da pátria e reconstrução das comunidades.
Quando todas as etapas da redenção do Brasil estiverem concluídas, novas corporações informais poderão surgir, e assim farão frente a todos os males que nos assolam. Porém, isso ainda é algo de um futuro um pouco distante.
Resta-nos agora continuar o nosso trabalho e buscar a santidade, pois como se está descrito nas sagradas escrituras, se “buscarmos o reino dos céus, todo o resto, nos será dado”.